Em editorial do American Journal of Medicine, William Frishman, Joseph Alpert e Thomas Killip celebraram o cinquentenário do trabalho original e clássico de Thomas Killip & John Kimball. Neste trabalho, os autores analisaram a evolução de 250 pacientes infartados, uma vez admitidos a uma unidade de cuidados coronarianos. A doença já era conhecida há décadas, porém o diagnóstico e o tratamento eram inconsistentes; o tratamento, mais que o diagnóstico. Os infartados permaneciam nas enfermarias comuns, juntos aos demais pacientes, evoluindo com mortalidade entre 30% e 40%. Frishman lembra de um paciente infartado que, sob cateter de oxigênio, permaneceu uma semana entre um paciente urêmico e outro com câncer de esôfago terminal. A originalidade do trabalho de Killip & Kimball consiste na concepção logística dos autores: de reunir os pacientes infartados num espaço com estrutura física e profissionais especializados. Os editorialistas dizem que os pacientes foram sequestered in a specialized hospital unit. Aqueles que se interessam pela história, dirão que há mais de 150 anos a dama da lâmpada Florence Nightingale já fizera isso com soldados britânicos na guerra da Criméia. Lembrarão também do trabalho de Alexander Lassen & Bjorn Ibsen, na Dinamarca, em 1952, na vigência da epidemia de poliomielite, quando reuniram as vítimas com disfunção respiratória e lhes ofereceram suporte fisiológico. Se a ousadia destes culminou com desfechos benéficos e notórios, não menos benéficos, notórios e relevantes foram os frutos do trabalho de Killip & Kimball. Ressalte-se, entretanto, que, apesar da contribuição, poucos intensivistas, hoje, conhecem o fato histórico. No máximo, alguns poucos citarão a classificação que os autores utilizaram para estratificar a gravidade dos pacientes infartados. Direi que, até a conhecem, mas a relegam ao passado, desconhecendo sua praticidade em qualquer lugar e tempo – bastando apenas dois ouvidos, um estetoscópio e alguns neurônios capazes de interagir!

[1] Am J Med 2017;130:1105 [2] Am J Cardiol 1967;20:457 [3] Lancet 1954;1:37

FAlbanoMeneses: O Rei continua Nu…;2021:129